Bom dia, como estão?
Esta é a continuação do texto que escrevi na semana passada. Caso não tenham lido, recomendo que o façam antes de continuar :)
Acho que todo mundo lembra que, em 2020, aconteceu uma pandemia — a não ser que você seja um negacionista maluco — e todo mundo que podia ficou mais recluso e etc. Muita gente foi afetada de diversas maneiras, uns mais, outros menos. Aqui do nosso lado, vimos nosso estúdio fechar por conta da falta de trabalho, e eu acabei voltando a mexer com desenhos autorais no caderninho como forma de terapia… de novo.



Cheguei a postar na página Quadrinhos Cotidianos, mas acabei fechando a conta de novo. Eu não queria vincular isso a um trabalho — não fazia muito sentido adicionar mais uma camada de responsabilidade em algo que tinha outro propósito. Mas segui fazendo esses quadrinhos aqui de casa, me divertindo e sem pensar muito. Quando dava vontade, postava. Quando não dava, não postava. Tudo certo aqui.
Essa foi a mesma época em que voltei a desenhar no papel, ao menos nos meus trabalhos pessoais, e isso me ajudou muito a lidar com o ócio de não ter mais um trabalho recorrente.
Eventualmente, consegui um emprego, e o tempo que desenhar essas coisas me ocupava acabou ficando escasso. Mas, como tenho dificuldade em lidar com as coisas sem um verniz de obrigação, com o tempo esse ritual de fazer as coisas pra mim acabou se tornando um desprazer — e eu, obviamente, parei. De novo.
Toda vez que eu voltava a desenhar pra mim mesmo, eu pensava: “preciso de um nome pra uma série”. Como essa que eu batizei de Um Dia a Mais… e que durou 3 páginas :(



Tenho um monte de exemplos disso aqui no HD, mas o que mais me marcou sempre foram as histórias bestas aqui de casa.






Se eu fosse resumir tudo isso em uma linha do tempo, seria assim:
2020: paro de fazer essas tiras sobre a rotina aqui de casa
2021: publico uma história de três páginas na Zica
2023: começo o Curb Talk, que eventualmente se transformaria em No Meio Fio, e sigo nessa fase até hoje — falo um pouco disso aqui:
Com o passar do tempo, eu aprendi a separar o sentimento de dever e o de querer fazer as coisas. E, naturalmente, comecei a brincar de desenhar nossa rotina de novo, sem obrigações, sem prazos, sem nada. Conto nesse post um pouco disso:
Recentemente, me dei conta de que essa é a coisa mais legal que eu tenho feito. Sei lá se por ser mais solto ou por simplesmente mudar o foco, mas acabou influenciando muito em como tenho desenhado o Meio Fio e outros trabalhos comissionados. E, no fim, tem me ajudado a me reconhecer no meu próprio traço — coisa que eu não tinha conseguido até hoje.
Todo esse processo me ajudou muito, e só hoje, olhando pra trás, eu vejo o quanto foi importante passar por todas as crises que tive — e todas as que ainda vou ter.
Estou trabalhando em compilar essas tiras num gibi curtinho e lançar ainda esse ano. Já tem nome, já tem conteúdo… tô só organizando no meu tempo mesmo.
Mas não vejo mais isso como uma demanda ou uma troca. Vejo como uma doação. Uma doação de mim pra mim mesmo. Um aceno pro Gu que gostava de brincar de desenhar e um lembrete pro adulto que hoje trabalha com isso, de que se divertir faz parte.
Em tempos de fim do mundo, cada um encontra maneiras de sobreviver — e eu tenho a minha: desenhar.
✌🏼
inspiração demais. sua honestidade é maravilhosa, continue mandando muito!!
Muito bom!