Em janeiro de 2016, eu decidi pedir demissão do meu trabalho após 9 anos por uma série de motivos que um dia eu explico melhor. Na época, eu tinha um selo musical, uma banda em circulação e nem pensava em voltar a desenhar quadrinhos.
Digo “voltar a começar” porque quadrinhos sempre estiveram aqui. Flertei com o profissionalismo em 2007/2008, parei de desenhar, em 2011 voltei a mexer com isso, comecei a trabalhar com um agente e pude ver um lado do mercado que eu não gostei — parei de desenhar de novo. Em partes por mim mesmo e, em partes, por conta desse contrato com o agente, que me deixou na geladeira por uns 3 anos.
Mas não reclamo. Eu não tava pronto pra desenhar, e o desenrolar das coisas provou que isso foi a melhor coisa que aconteceu comigo.
Quando eu me vi longe do meu emprego depois de quase uma década no mesmo setor, eu já vinha criando ilustrações com a Carol no Miopia (estúdio que tivemos e que durou de 2013 a 2020 — R.I.P.), mas não mexia com trabalhos autorais, onde eu assinava a criação das peças. Meu período de geladeira tinha acabado — e com ela, a vontade de trabalhar com quadrinhos. No caso, quadrinhos de super heróis, os famosos comics.
Acontece que eu já tinha abandonado esse tesão que eu tinha por gibi de herói — ou como diriam por aí, “gibi de herói de cuequinha”, ou “gibi de hominho com cueca por cima da calça”, você entendeu.
Não sei como a indústria é hoje em dia, mas nessa época existia a necessidade de se adequar ao mercado pra cavar seu espaço — desenhar o que estava em alta e como estava em alta. Não existia autoria, apenas o lado produção. Enfim, uma indústria de fato. Ao menos na minha experiência, foi assim. O que só aumentou meu desânimo — inclusive pra ler.
De volta a 2016: por mais clichê que pareça, comecei a fazer alguns desenhos autobiográficos como forma de terapia — na maioria, cartuns bobos do dia a dia.



Timidamente, acabei voltando a mexer com quadrinhos. Devo ter tido outros exemplos, mas pelo que me lembro, esse foi o primeiro:






Aí acabei me empolgando. Criei uma página no Instagram e no Facebook chamada Quadrinhos Cotidianos, onde eu publicava diariamente tirinhas inventadas. Até acabei publicando um zine, que deve ter tido 50 cópias ou menos — obviamente impressos e costurados pela Carolzinha, que anos depois faria os gibis do No Meio Fio.






Depois desse zine, eu implodi. Na época, lidava com muita ansiedade, e ter pessoas seguindo meu trabalho autoral me deixou pior ainda. Apaguei tudo e decidi não desenhar mais essas coisas.
Mas eu não parei, né…
Na semana que vem eu falo um pouco mais sobre isso — o texto tá ficando meio longo...
Salve, Gustavo! Tranquilo?
Cara, não sei se um comentário desses pode te deixar mais envergonhado do que feliz, mas de qualquer modo, gostaria de dizer que curto demais as tirinhas do meio fio, encontrei pelo instagram vendo o seu trabalho ser compartilhado por outros ilustradores e o seu traço é muito bom, é autêntico e embora dê para extrair um pouco de referência de tirinhas como as do Ziraldo, é lindo de se ver. E falando sobre as tirinhas No Meio Fio as histórias são muito legais! Trabalho com marketing e comunicação num geral e admiro demais que as suas histórias tem muita nostalgia e emoção sem sequer ter um balão de fala. "Grandes mensagens, precisam de poucas palavras". Algo como isso, entende?
De todo modo, saiba que sempre haverão pessoas vendo seu trabalho online, uma ou um milhão, o importante é que você faz algo único e divertido de se ler e ver. Por favor, não pare de escrever suas histórias em quadrinhos!
às vezes, o melhor que podemos fazer é respeitar os ciclos e os aparentes descaminhos da vida… até que tudo volte a florir!